Aprendendo em quadrinhos



Estudo da faculdade de administração da University of Oklahoma, a ser publicado em breve na Business Communication Quarterly, afirma: usar histórias em quadrinhos no ensino superior pode ser mais eficiente que o tradicional livro texto.
Cento e quarenta alunos de graduação participaram do estudo. Parte do grupo leu uma HQ que trata de empreendedorismo, com a história de dois alunos que querem montar seu próprio negócio. A outra parte do grupo leu o capítulo de um livro que trata do mesmo assunto, com as mesmas informações.
Segundo a pesquisa, os alunos que leram a versão em quadrinhos se saíram melhor numa prova aplicada logo após o experimento. E conseguiram lembrar citações diretas com mais eficiência que os colegas que leram a versão texto.
Em experiência correlata, 114 formandos da área leram a mesma HQ e foram consultados quanto à sua eficiência no aprendizado. Mais de 80% dos pesquisados foi favorável à utilização dos quadrinhos.
O estudo foi coordenado por um professor que é evangelista dos quadrinhos na educação superior, Jeremy Short. Ele lançou nos EUA HQs pedagógicas sobre empreendedorismo e franchising e tem até palestra num desses TEDs. É óbvio que o método é visto com desconfiança pela classe acadêmica, sendo a principal crítica a de que os alunos estão sendo tratados como imbecis.
Short vem de uma corrente de estudiosos que defende o potencial dos quadrinhos como veículo de altíssima eficiência para transmitir informação complicada. Embora esta aplicação exista desde que existem gibis — Will Eisner fazia manuais em quadrinhos para as Forças Armadas — dá para dizer que Scott McCloud é o santo-padroeiro da corrente. Seu Desvendando os quadrinhos, que vai completar 20 anos, é a análise mais sensata do potencial das HQs enquanto mídia (e meu livro preferido de Teoria da Comunicação). Provou essa possibilidade quando o Google contratou-o para explicar, em quadrinhos, como funcionaria o navegador Chrome e dá aulas de “estruturação de narrativa visual” mesmo para quem não sabe desenhar — basta entender a lógica das HQs.
O potencial está no seguinte: tudo que se pode fazer ao combinar palavras e figuras. E também: o leitor define o ritmo de leitura (como no texto puro); há maior envolvimento a partir do uso de narrativa dramática; a produção é mais barata que a de um audiovisual; a portabilidade é igual à de um livro. E, verdade seja dita, figuras são mais atraentes que só letrinhas.
Os que tratam isto por imbecilização do ensino merecem uma migalha de atenção, pois propostas como a deste estudo podem ser reduzidas a “livros são chatos, gibis são legais — quero que me ensinem tudo em gibi.” Não se pode pensar assim. Textos são abstrações, ótimos para conduzir ideias que não têm materialidade, e enfiar-se num livro de filosofia ou matemática é exercício mental que só tem benefícios para o pensamento analítico e crítico. Na educação, nunca se poderá abrir mão do puro texto, pois ele não é totalmente substituível por outras mídias. O que o estudo reforça é que, a cada objetivo e/ou tópico de aprendizagem, pode haver mais eficiência de aprendizado com outras mídias, como os quadrinhos.
O grande impeditivo da utilização de quadrinhos como material pedagógico é a tradição, combinada a certo preconceito. Pode-se investir em bons livros didáticos em quadrinhos, mas vá instruir professores a produzir uma aula-HQ interessante com a mesma desenvoltura que montam seus powerpoints. Nossa educação não só é baseada na leitura de texto, mas também nos prepara melhor para a expressão em puro texto do que em outras mídias. Motivo, aliás, pelo qual você não está lendo esta coluna em forma de quadrinhos.